Economia pós-golpe: baixo crescimento e desemprego elevado


Sem vida, a economia não faz barulho, buscando se acomodar aos retrocessos que se acumulam no país sem horizonte de crescimento sustentável.

Por Marcio Pochmann*

 

 

A decisão do governo Dilma de promover o choque de custos no interior do sistema produtivo logo no início de 2015, com a desvalorização cambial, a própria elevação dos juros e a liberação de vários preços administrados, entre outros, terminou por empurrar, por consequência, o custo de vida para o patamar acima da meta superior de inflação.

No cenário recessivo imposto, bem como acompanhada da queda dos preços das commodities, a espiral inflacionária não teria como se manter por longa duração, mesmo com o ainda elevado grau de indexação presente no interior da economia brasileira.

Mas arbitrária ascensão do governo dito pró-business de Temer terminou sendo acompanhada por uma ortodoxia ainda maior à frente do Banco Central (BC). O guardião da moeda nacional não se fez de rogado, pisou fundo na taxa de juros para somente promover a redução da taxa Selic quando os ganhos reais dos rentistas terminassem por colocar em risco o sistema bancário, diante da insolvência apontada pelas empresas e famílias.

A rebaixa na taxa de inflação vem sendo acompanhada pela ortodoxia encastelada no BC de uma espiral deflacionista que segue quase inexoravelmente a trajetória que decorre do patamar elevado dos juros reais atuais, sem falar no desejo subentendido de reduzir o centro da meta de inflação para o próximo ano. A menor inflação segue apoiada, inclusive, por equívocos da valorização do real, que joga por terra o esforço do começo do segundo governo Dilma de oferecer algum alento competitivo adicional ao setor produtivo nacional.

O que se tem nos dias de hoje é o crescente silêncio dos cemitérios. Sem vida, a economia não faz barulho, buscando se acomodar aos retrocessos que se acumulam no país sem horizonte de crescimento sustentável.

A grande dimensão do desemprego e o cada vez mais longevo prazo para o retorno dos sem empregos ao mercado de trabalho seguem acompanhados da queda da taxa de salários. Neste sentido, o consumo das famílias pouco poderá auxiliar no estímulo de puxar a demanda interna.

Mas a elevação no preço de algumas commodities concomitante com a queda nominal na taxa de juros poderia ensejar outro sentido de recuperação econômica. Talvez o reposicionamento dos estoques provocados no interior das empresas não seja suficientemente forte para interpor ao “freio de arrumação” em curso nos entes subnacionais como estados e municípios em situação quase falimentar.

O “silêncio ensurdecedor” da economia brasileira somente tende a ser interrompido pela “voz rouca das ruas”, que almejam cada vez mais outro rumo para a economia brasileira. Os anos de 1990, com toda a experimentação neoliberal, deixou a marca indelével do desemprego em larga escala e a destruição da massa salarial.

A retomada do receituário neoliberal pelo governo pró-business de Temer segue o mesmo sentido. O desemprego já é maior do que o dos anos de 1990, cuja queda provocada na participação de salários faz retornar para a primeira metade da década de 2000.

Os segmentos mais empobrecidos e vulneráveis da população são os mais atingidos desfavoravelmente pelo curso atual da política econômica que produz o silêncio dos cemitérios. Mesmo assim, os estratos de classe média terminam sendo os mais prejudicados no médio e longo prazo por decorrência da destruição e difícil retomada dos empregos intermediários na estrutura ocupacional.

Não parece ser outro motivo que entre a juventude universitária, o estímulo de sair do Brasil cresce cada vez mais. O silêncio dos cemitérios não os agrada, pois preferem o barulho de uma economia ativa e próspera, que parece estar cada vez mais distante das medidas ortodoxas atualmente em curso no Brasil.

* Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas

Fonte: Rede Brasil Atual

8 comentários

  1. “Governo e mídia: Expressão maior da hipocrisia que hoje prejudica o Brasil – ASSIM É. PAÍS SEM PUDOR!”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2017/03/03/governo-e-midia-expressao-maior-da-hipocrisia-que-hoje-prejudica-o-brasil/

    “…Parece óbvio que o Poder sempre se dispôs e investiu em dar informações que protegessem e defendessem seus próprios interesses. E esta situação perdurou mesmo quando a tecnologia e a diversidade de objetivos permitiram chegar ao conhecimento das pessoas, a minoria letrada, informações e interpretações diferentes sobre os mesmos acontecimentos.

    Mas a situação que vivenciamos …”

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  2. MAS NADA ACONTECE…
    O PAÍS FOI TRANSFORMADO EM UM BACANAL…
    OU, NAS PALAVRAS DO LÍDER DO GOVERNO NO SENADO, O SEN. ROMERO JUCÁ, O CAJU, UMA SURUBA. A SURUBA DO BACANAL BRAZZIL!

    OLHA SÓ, OS COXINHAS GOLPISTAS NUNCA APRENDERÃO MESMO… RS RS RS
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2017/03/03/olha-so-os-coxinhas-golpistas-nunca-aprenderao-mesmo-rs-rs-rs/

    “…Pois é, sr. André. Pois é.
    Por outro lado eu não tenho pena nenhuma de um coxinha golpista assumido e manipulado como o senhor demonstra ser.
    Fico mesmo a pensar como seria a vida de um coxinha golpista de merda se não tivesse em casa um espelho.
    Claro, este tipo de gentinha fala, porque tem boca, mas somente fala e repete aquilo que vê no seu espelho. O imbecil manipulado, títere que é, …”

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  3. “A FESTA CONTINUA…”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2016/10/08/a-festa-continua/

    “…Subitamente, um filhinho de papai idiota e oportunista, com a cara cheia de tanta droga, cheirada, bebida, fumada e esfregada nas gengivas, lavrou suas palavras de ameaças na poeira que ele costumava compartilhar com outros carinhas dali. E outros o seguiram imediatamente. Alguns o seguiam em seus helicópteros, outros de trens metropolitanos, outros vendendo até coisas que nem eram suas, mas que queriam entrar e participar da farra. A farra do boi, a farra para os que ali tentavam comandar a festa. …”

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  4. ENTENDA UM POUCO MELHOR A LEGISLAÇÃO ELEITORAL E VERÁ QUE OS VOTOS NÃO TEM NENHUM SIGNIFICADO NAS ELEIÇÕES PROPORCIONAIS – REPITO, NENHUM!!!!

    HÁ MUITAS REFERÊNCIAS EM MEU BLOGUE, SE INTERESSAR…

    “Assim é. País sem pudor! TERIA SIDO UM GOLPE? TERIA SIDO UM GOLPE COMANDADO PELOS PODERES DA REPÚBLICA, SOB DOGMAS DOS PODEROSOS MULTI-NACIONAIS E GOVERNOS EXTERNOS?”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2017/01/05/assim-e-pais-sem-pudor-teria-sido-um-golpe-teria-sido-um-golpe-comandado-pelos-poderes-da-republica-sob-comando-dos-poderosos-internacionais/

    “Assim é. País sem pudor! “A sombra do estado de exceção se ergue sobre nós””
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2016/12/21/assim-e-pais-sem-pudor-a-sombra-do-estado-de-excecao-se-ergue-sobre-nos/

    “Hoje, pela manhã – E deu nisso, uma retrospectiva bem cansativa”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2016/04/27/hoje-pela-manha-e-deu-nisso-uma-retrospectiva-bem-cansativa/

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  5. “É preciso desmontar o Tripé Macro Econômico Golpista no Brasil (Por Ligia Deslandes) – ASSIM É. PAÍS SEM PUDOR!”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2017/02/28/e-preciso-desmontar-o-tripe-macro-economico-golpista-no-brasil-por-ligia-deslandes/

    “…Mais do que uma questão de política de direita ou de esquerda, o que estão fazendo com o nosso Brasil é uma grande rapinagem. O Banco Central do Brasil está usando o sistema operando ele contra o país. Aliás, quem disse isso também foi ninguém mais que o prêmio nobel Joseph Stiglitz, afirmando que o Banco Central do Brasil estrangula a economia local. …”

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  6. “NEM TODOS OS LADRÕES ESTÃO NO GOVERNO.
    MAS TODOS OS QUE ESTÃO NO GOVERNO SÃO LADRÕES.”

    ALGUÉM ACHA MESMO QUE O TEMEROSO ACIDENTE PAVOROSO É O PROBLEMA? ACHA QUE O TEMEROSO ACIDENTE PAVOROSO INTESTINO CHEIO DE MERDA É O PROBLEMA?

    Lígia Deslandes: O Banco Central do Brasil e o Golpe na Economia – E O CAPETA CHEGOU… – ASSIM É. PAÍS SEM PUDOR!
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2017/02/23/ligia-deslandes-o-banco-central-do-brasil-e-o-golpe-na-economia-e-o-capeta-chegou-assim-e-pais-sem-pudor/

    É UM ARTIGO MUITO GRANDE, MA MUITO BOM E ESCLARECEDOR…

    “…a crise econômica foi uma crise provocada pelo BANCO CENTRAL DO BRASIL com o intuito de derrubar a esquerda e privatizar o país. Nem a Presidenta Dilma Roussef percebeu e nem o restante da esquerda se deu conta dos arranjos que foram feitos entre esses representantes da política e da economia.

    O desmonte da economia foi traçado com requintes de traição através da união entre grandes corporações, banqueiros, políticos corruptos, parte do judiciário e a mídia que de forma minuciosa planejaram o golpismo …”

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