Nos dias 28 a 30 de maio, ocorreu a “Jornada de Vanguarda Científica” promovida pelo Centro de Estudos da Transição (CTS) da Universidade Autônoma Metropolitana do México. A jornada foi inaugurada com um evento que reuniu um dos principais geoestrategistas da América Latina, o professor Alfredo Jalife-Rahme, além de analistas geopolíticos de quatros países dos BRICS: da Rússia — da Academia de Geopolítica de Moscou —, da Índia — com uma professora daqule país —, da China — da Academia de Marxismo do PCCh – e do Brasil.

Ronaldo Carmona, pesquisador de teoria geopolitica da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a “grande estratégia brasileira”, diante de uma plateia composta por centenas de professores e estudantes da UAM. Leia, a seguir, entrevista concedida por ele ao jornal mexicano La Jornada.
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Depois de 20 anos desde a assinatura do Acordo de Livre Comércio (NAFTA), o México está em uma posição que possibilita ao país perguntar se tal acordo com os Estados Unidos e Canadá gerou condições mais ou menos favoráveis para o desenvolvimento nacional e tomar novas decisões. A afirmação é do pesquisador brasileiro Ronaldo Carmona, do Laboratório de Geografia Política na Universidade de São Paulo (USP), o principal país emergente da América do Sul e um dos cinco em todo o mundo, junto com Rússia, Índia, China e África do Sul (conhecida como BRICS), que neste ano realizará sua sexta cúpula.
Carmona, que participa da quarta “Conferência Internacional de Vanguarda Científica”, realizada na Universidad Autónoma Metropolitana-Xochimilco, quando pronunciou a palestra Brasil “A grande estratégia para o século XXI”, Em uma pausa ele comentou o assunto:
“O México não pode demorar a tomar decisões porque o mundo está evoluindo de uma forma muito rápida. Está se formando alianças, blocos e tem de optar por um sistema ou outro. Por isso, as críticas do Brasil à Alca (Área de Livre Comércio das Américas, liderada por os EUA), que seria a latino-americanização do Nafta. Para nós, seria inconcebível participar da Alca porque geraria uma certa abdicação do, por exemplo, do nosso projeto de desenvolvimento industrial, científica e tecnológica autônomo.”
O especialista observa que as décadas de 80 e 90 foram anos de fracasso estratégico para o Brasil, que só neste novo século, com a chegada de Luis Inácio Lula da Silva ao poder, pôde criar uma grande estratégia diante do cerco à sua soberania e recursos por parte das potências centrais, especialmente os Estados Unidos.
Ele fala do cerco econômico para o Brasil, do cavalo de Tróia que foi para o Mercosul o golpe no Paraguai, do lugar que o país ganhou no Conselho de Segurança da ONU, sobre a importância da eleição de Dilma Rousseff depois de dois governos de Lula, dos 20 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza ou do que o banco dos BRICS empresta três vezes mais dinheiro do que o Banco Mundial.
E também do processo de desocidentalização do mundo, devido ao surgimento de outras nações, da fabricação de um submarino nuclear brasileiro como parte do fortalecimento de sua estratégia de defesa dissuasiva, não expansiva nem imperialista e que o entorno estratégico do país engloba o Caribe, o Pacífico, a Antarctica, o Atlântico Sul e a África Ocidental.
Quais são os elementos fundamentais da nova geoestratégia do Brasil em relação à América Latina, os Estados Unidos e os BRICS?
Esse é um desafio importante para os países em desenvolvimento e, por isso, formou-se um polo de unidade sul-americana a partir da Unasul; com a África, com a União Africano; um mecanismo como o IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) ou os BRICS e outros. Hoje, há uma transição na correlação de forças no mundo e ainda não sei qual será o resultado.
Poderia comentar sobre a importância do conceito de dissuasão militar para os interesses geoestratégicos do Brasil, oposto ao da expansão?
O primeiro passo é olhar quais são as grandes tendências e perspectivas em evolução no mundo. E também a análise em perspectiva dos países poderosos que aponta para um fator de instabilidade nas próximas décadas. É uma tendência de uma crescente escassez de bens, enquanto no sul temos terra, água, energia e biodiversidade em abundância.
Em termos geoestratégicos, como vê o México, desde o Brasil, tendo em vista que, junto com países como Colômbia, foi deixado de fora desses processos de mudança na América do Sul?
Uma tese muito forte fala que na América Latina há duas velocidades de desenvolvimento: uma rápida, no sul, e outra lenta na América Central, Caribe e México. Observando isso do Brasil, devo dizer que a nossa meta é fazer com o México esteja cada vez mais próximo da América do Sul para formarmos uma unidade da Patagônia ao Rio Grande.
