A guerra de movimento


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 O ano de 2015 encerrou-se com tudo o que nosso político precisava. Capacidade de manobra, campo de respiro e, principalmente, perspectivas. A oposição perdeu o timing político e o resultado foi o levante de setores variados da sociedade contra o golpe institucional. Ocorreu a eles a falta de sensibilidade para quem quanto mais se estica a linha de combate, mais vulneráveis ficam os flancos. Principalmente quando os flancos são defendidos por generais do nível de Eduardo Cunha, Aécio Neves…

 Por Elias Jabbour.

Certa falta de tato, inteligência e muita arrogância jogam a nosso favor, certamente. A grande mídia convoca sua tropa de choque ao ataque. Merval Pereira na política e Alexandre Shwartsman na economia antes de nos ocorrer em raiva, deveria nos fazer rir. Incorrem no mesmo erro de Hitler após os primeiros revezes dentro de território russo: insistem em guerra de movimento quando não percebem o quanto isso pode leva-los a um afunde sem volta. Poderão ser cercados e, quem sabe, esmagados como em Stalingrado e Minsky. Em outras palavras: a insistência no golpe institucional e arrocho monetário profundo podem se virar contra os próprios. Sinais de recuperação do ambiente de governabilidade (saudações à firme posição do presidente do Senado Federal contra o impeachment) e a insatisfação de grupos empresariais nacionais (como a Abimaq) contra as consequências da Operação Lava Jato são de ótimo agouro neste sentido.

 Devemos manter a serenidade e a inteligência. Ainda não retomamos completamente a iniciativa política e na economia os sinais não são dos melhores. A capa da The Economist desta semana  — desqualificando o esforço de recuperação do Brasil — dá o tom do combate e deve nos remeter à terra. A aposta da grande finança internacional contra o país, continuará, e deverá ser alta. A chantagem, a regra do jogo. A correlação de forças interna não nos permite grandes rodopios na economia, no máximo maior fôlego fiscal diante do malogro do ajuste de curto prazo perseguido em 2015. É preciso construir um consenso sobre um ajuste de longo prazo no rumo do não colapso de nosso sistema de financiamento ao capital produtivo e da urgente recomposição dos investimentos sociais aos níveis anteriores de 2015.

 Nelson Barbosa no lugar de Joaquim Levy seria uma linha de continuidade da política monetária seguida até o momento? Ou não? Como dito mais acima, não esperemos rodopios na economia. O compromisso com o ajuste fiscal deve continuar, agora com chances de flexibilização. A palavra “flexibilização” pode ser lida também como “transição”. Esta transição não é uma operação econômica, pura e simples. Deverá ser uma operação política sofisticada com o governo jogando as cartas, agora com sua base social recomposta. Para esta transição atingir a taxa de juros, o governo deverá saber jogar com algumas possibilidades de ampliação. Entre elas o já exposto descontentamento, por parte de empresários ligados à área de máquinas e equipamentos, com os rumos da Operação Lava Jato. Talvez tenha chegado o momento de utilizar os resultados sobre a economia desta operação a nosso favor. Cálculos demonstram que os efeitos desta são de 2,5% do PIB para baixo.

 O ano de 2016 promete mais demanda por luta e paciência. Acelerar os acordos de leniência e as concessões de infraestruturas e maior atenção sobre a possibilidade de mais volatilidade cambial. Quanto maior a volatilidade da taxa de câmbio, maiores serão as incertezas de investimento alimentadas. Por outro lado, a chantagem da banca internacional merece mais reflexões de nosso governo sobre a conveniência de maior aprofundamento financeiro no âmbito dos BRICS, tendo em vista que o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) deverá entrar em operação no segundo trimestre de 2016. A Petrobras, certamente, é a maior interessada nesta relação. Seria o passo adiante na arena internacional capaz de abrir condições objetivas a mudanças de rumo no campo doméstico.

 Este é o ano chave de nosso governo. Cada passo deverá ser calculado. E muito bem calculado. A tropa de choque deles, dentro e fora do país, está em plena atividade. Nossa margem de erro é mínima. Consciência sobre nossa força é essencial. Momento de menos radicalidade e mais amplitude. Mais inteligência. A combinação entre amplitude e inteligência redunda numa forma suprema do chamado “ser radical”, de fato.

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