Pedro Oliveira e Inácio Arruda: A fundação do PC do Vietnã na luta pela libertação nacional e social


Na cidade de Kowloon, incrustrada na parte continental de Hong Kong, reuniram-se 7 delegados exatamente durante as festividades do Tet, o Ano Lunar chinês, o que lhes dava maior segurança de não serem perturbados ou mesmo presos por atividades revolucionárias.

A situação no Vietnã era extremamente perigosa para os que tinham algum compromisso com a luta de libertação nacional e a revolução social. Muitos líderes havias sido assassinados e encarcerados por suas atividades políticas

Era o dia 3 de fevereiro de 1930, e aqueles camaradas representavam organizações em operação clandestina na península Indochinesa, ocupada pelos colonialistas franceses. Dois deles representavam o Partido Comunista da Indochina, outros dois delegados do Partido Comunista Anamita, os camaradas Son e Mau de organizações comunistas regionais, e o representante do Comintern (a Internacional Comunista com sede em Moscou) Nguyen Ai Quoc.

A primeira parte da conferência de unidade política das organizações comunistas vietnamitas, reunida em um modesto hotel chinês, tratou de uma carta redigida pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista e lida na reunião pelo seu representante Nguyen Ai Quoc, que 15 anos depois se revelou ser Ho Chi Minh. Nesta carta se dizia: “Na ausência de uma unidade comunista — quando o movimento operário e camponês levantava sua voz — o futuro da revolução na Indochina passa a ter perspectivas graves e perigosas”. E continuava: “A hesitação de alguns grupos em constituir um sólido Partido Comunista sem maiores delongas é um erro… A mais importante e urgente tarefa dos comunistas indochineses – hoje em dia – é fundar um Partido revolucionário do proletariado, ou seja, um partido comunista de massas”. Ao que Nguyen Ai Quoc acrescentou: “Sem um partido revolucionário unificado e combativo, a luta de libertação dos trabalhadores será como um navio sem leme, sem direção”.

No começo deste processo, alguns analistas consideravam que seria difícil chegar a um acordo, fruto de lutas internas muito acirradas entre dois jovens partidos constituídos no interior do país, o Partido Comunista Indochinês e o Partido Comunista Anamita. Mas gradualmente os debates foram se desenvolvendo naquele encontro, e com a capacidade de argumentação e convencimento demonstrado por Nguyen Ai Quoc, os delegados acabaram chegando a uma conclusão no dia 5 de fevereiro quando foi aprovada uma resolução pela unidade. Este documento, em seguida, foi aprofundado com uma espécie de programa partidário, onde se caracterizava o Vietnã como uma colônia semifeudal, no qual estava em curso uma revolução democrática-burguesa. Depois esta revolução foi denominada pelo programa como Nacional e Popular, uma revolução democrática. O objetivo do programa era destituir o domínio dos colonialistas e dos senhores feudais a eles alinhados, para garantir a soberania nacional, dar terra aos camponeses que nela queriam trabalhar e organizar um novo governo dos trabalhadores, dos camponeses e soldados, com um regime de liberdades democráticas para o povo, ao lado de constituir um exército popular de libertação.

O Partido assim constituído, se colocava na vanguarda da luta dos trabalhadores para unir o povo vietnamita, e lutar junto aos povos oprimidos de todo o mundo, mantendo a solidariedade com a classe operária internacional, especialmente ligado à luta dos trabalhadores e trabalhadoras do conjunto do país. Os delegados se comprometeram a resolver suas diferenças políticas e ideológicas e a cooperar para atingir a unidade de ação, elegendo um Comitê Central provisório para organizar o primeiro congresso partidário, trabalhando em conjunto, com base em princípios numa linha estratégica e tática para conquistar a revolução vietnamita.

Ao cair da noite do dia 5, Nguyen Ai Quoc providenciou um modesto jantar com os delegados presentes para comemorar o objetivo atingido de promover a unidade do Partido que ele havia acalentado por longos 20 anos de estudo, articulações e viagens ao redor do mundo e em atividades políticas e organizativas no Vietnã. Disse ele naquela ocasião: “O Partido Comunista do Vietnã foi fundado, é o Partido da Classe Trabalhadora. Ele irá ajudar os trabalhadores a lutarem pela libertação dos oprimidos e explorados. Irmãos e irmãs, juntem-se ao Partido, sigam-no, e o ajudem a derrotar os imperialistas franceses e o feudalismo vietnamita e a burguesia reacionária, ajudem-no a conquistar nossa independência e a estabelecer um governo dos trabalhadores, dos camponeses e dos soldados”.

E assim foi feito – fazendo do Vietnã um país socialista moderno, que se desenvolve celeremente, em aliança com os países da Asean, os membros da Associação dos Países do Sudeste da Ásia, e em cooperação com vários outras Nações ao redor do mundo.

Referências: “The Communist Party of Vietnam, From the first to the 12th National Congresses”, The Goi Publishers, Hanói 2018

“Ho Chi Minh”, Yevgeny Kobelev, Progress Publishers, Mocou, 1993


AUTORES

Inácio Arruda
Ex-Secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo do Ceará, ex-senador e presidente nacional da Abraviet

Pedro Oliveira
Jornalista, membro da diretoria da Fundação Maurício Grabois e do Comitê Estadual do PCdoB de Pernambuco e secretário Geral da Abraviet

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