Inegável que o estado da arte na economia tem sido, em eleições presidenciais no Brasil, uma variável importante.
Certamente decisiva no comportamento do eleitorado.
Se tomarmos como referência a inflação — que se reflete diretamente no poder de compra das famílias —, este é um dado preocupante para o atual presidente da República em seu intuito de reeleição.
Três presidentes que se reelegeram exibiram em seus governos índices inflacionários de um dígito.
A inflação média anual (IPCA) no governo de Fernando Henrique Cardoso alcançou 9,24%; no de Lula, 5,79% e Dilma, 6,17%.
Agora, segundo o IBGE, em aferição divulgada em 11 de maio último, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 12,13%, acima dos 12 meses imediatamente anteriores e a maior desde outubro de 2003 (13,98%).
O índice de inflação da cesta básica cresceu quase 27% nos últimos 12 meses.
Na dura prática da vida cotidiana isso quer dizer fome para 33 milhões de brasileiros!
Nessas circunstâncias, e também por muitos outros conhecidos motivos, no Palácio do Planalto o ambiente é de crescente e incontrolável tensão.
Até porque as medidas adotadas por Bolsonaro e Guedes, visivelmente atabalhoadas, não produzem os resultados desejados.
O governo trata o barco de muitos furos da economia com porções de cola rapidamente diluíveis.
Agora pretende torrar o valor de uma Eletrobrás inteira em medidas de contenção da alta de preço dos combustíveis reconhecidamente ineficazes.
E, nas pesquisas de opinião pública que se sucedem semanalmente, tanto se consolida a desaprovação do governo como o enjaulamento de Bolsonaro aos limites insuficientes da parcela do eleitorado ensandecida pelo extremismo inconsequente.
Mesmo os beneficiários do tal Auxílio Brasil, em sólida maioria, rejeitam o presidente.
Nessas circunstâncias, há de ser destaque no anúncio próximo das diretrizes para um futuro governo Lula o combate à inflação combinado com a geração de ambiente propício à retomada das atividades econômicas e, por conseguinte, ampliação das oportunidades de trabalho e recuperação do poder de compra das famílias.
No confronto decisivo entre os dois concorrentes que polarizam a disputa esse tema se sobreporá em muito ao presumível esforço do capitão presidente em esgrimir, mais uma vez, sua odiosa e retrógrada pauta de costumes.
Enfim, trata-se de uma variável que pode realmente ter peso enorme tanto quanto o debate sobre o tema se alastre no seio da população — tarefa militante indispensável na atual pré-campanha eleitoral.