Em entrevista ao jornal chinês Diário do Povo, a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos destacou a visão do PCdoB sobre a conjuntura internacional e o papel da China. Leia a íntegra da entrevista aqui no nosso blog.
- O que a senhora teria a comentar sobre a recente intervenção do presidente da República Popular da China, Xi Jinping, que é também o Secretário Geral do Partido Comunista da China, na cerimônia de abertura da Sessão de Estudo de dirigentes províncias e ministros em Beijing ?
LUCIANA SANTOS: As palavras do presidente da República Popular da China, camarada Xi Jinping, têm uma grande importância na atual situação mundial e em relação ao processo de desenvolvimento da China. Vivemos um período de grandes ameaças e retrocessos no plano internacional. Podemos dizer que neste último século assistimos riscos muito complexos, desafios e contradições como salienta o secretário geral do Partido Comunista da China em sua alocução.
Exemplo das ações provocativas dos Estados Unidos é a recente visita da chefa da Câmara de Representantes do Congresso americano, Nancy Pelosi, a Taiwan, província chinesa que abrigou em 1949 o que restou do exército do Kuomintang, derrotado na Revolução Chinesa. Entretanto, desde 1971 a República Popular da China e os EUA estabeleceram entendimentos sobre “a política de uma só China”.
Três importantes comunicados foram assinados entre a República Popular da China e os Estados Unidos da América e divulgados em 1972, no dia 28 de fevereiro, depois o segundo em 16 de dezembro de 1978 e finalmente o terceiro comunicado, em 17 de agosto de 1982. Em uma recente entrevista concedida pelo Ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi, conclamou a comunidade internacional que se oponha a quaisquer ações que desafiem o princípio de “uma só China” e trabalhem em conjunto para proteger a paz e a estabilidade na região. Todo esse esforço tem sido desprezado pela política que os Estados Unidos vem praticando de tentar conter o desenvolvimento da China, como se isso fosse possível diante da determinação inabalável do povo e da direção do Partido Comunista e do Governo chinês.
- O que a senhora teria a comentar sobre o desenvolvimento da China nos últimos cinco a dez anos sob a liderança do Secretário Geral Xi Jinping?
LUCIANA SANTOS — Estamos convictos de que o líder do povo chinês — Xi Jinping — vem levantando bem alto a bandeira do Socialismo com características chinesas e desta maneira contribui decisivamente para a construção de um novo capítulo na história do moderno país que é a China atual, que se desenvolve em todos os principais aspectos da sociedade chinesa, da economia, da ciência e da tecnologia, da cultura e da política.
Xi Jinping tem se destacado igualmente na adaptação do marxismo ao contexto da China e sua história milenar, liderando o Partido Comunista e o Governo do mais populoso país do mundo, fortalecendo a teoria e a cultura do socialismo, seguindo adiante no processo histórico do rejuvenescimento nacional chinês.
- Quais as expectativas e como a senhora encara a importância do 20. Congresso do Partido Comunista da China?
LUCIANA SANTOS – Acreditamos que se revestirá de grande importância a realização do 20. Congresso do Partido Comunista da China não somente para os chineses mas também para a situação mundial. A jornada pela construção de um país socialista moderno em todas as dimensões, como reafirmou Xi Jinping na reunião em Beijing, estabelecerá os objetivos e os desafios políticos e econômicos pelas causas do Partido nos próximos cinco anos. Xi Jinping também lembrou que todos os esforços estão sendo feitos para avançar na construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os seus aspectos, promovendo o desenvolvimento de alta qualidade, avançando nas reformas rapidamente, mas de forma estável, promovendo um sólido processo de desenvolvimento da democracia popular e da cultura socialista.
- Como será que o mundo poderá aproveitar e se beneficiar do desenvolvimento da China? A ideia da construção de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade, a iniciativa para um desenvolvimento global e a iniciativa para uma segurança global?
LUCIANA SANTOS — Com a sua política interna e externa de construção de uma comunidade de futuro compartilhado a China vai alterando a lógica que prevaleceu não somente durante o período do colonialismo e do neocolonialismo, mas também que prevalece ainda hoje no cenário internacional do imperialismo como política de estado de grandes potências capitalistas. Ao invés da política de intervencionismo praticada pelos países imperialistas, onde se procura explorar os recursos naturais e humanos dos países em desenvolvimento, a China trilha o caminho do “Cinturão e Rota” (Belt and Road), onde todos os países envolvidos adotam políticas de ganha-ganha, construindo infraestruturas duráveis que permitem as trocas comerciais e econômicas vantajosas para ambos países envolvidos.
Além disso, essa política internacional fortalece os laços de Cooperação como os países que compõem os BRICS, que recentemente assinaram em seu XIV Encontro de Cúpula realizado em Beijing em junho último, uma declaração importante em que os cinco países que o compõem – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – se comprometem em persistir no espírito do respeito mútuo, da igualdade, da solidariedade, da abertura, da inclusão e do consenso, fortalecendo a confiança mútua, a cooperação intra-BRICS, as relações inter-povos que podem conduzir a grandes conquistas.
Da mesma maneira essa política praticada pela China fortalece continuamente o multilateralismo através do respeito às leis e aos Tratados internacionais, baseados na Carta das Nações Unidas, e no papel da ONU no sistema internacional de países soberanos, comprometidos com o desenvolvimento sustentável, a promoção da democracia, dos direitos humanos fundamentais e da cooperação baseada no espírito do respeito mútuo, da justiça e da igualdade.
- A senhora já teve a oportunidade de ler a obra “A Governança da China” escrita pelo secretário geral Xi Jinping? A senhora tem algum comentário sobre o livro?
LUCIANA SANTOS – Como presidente do Partido Comunista do Brasil, a leitura dos livros de Xi Jinping é uma referência fundamental. Em nossos cursos de formação política dos militantes comunistas brasileiros a obra de Xi Jinping se destaca. Inclusive um de nossos destacados dirigentes partidários — que lamentavelmente faleceu vítima da COVID 19 — Haroldo Lima, juntamente com o jornalista Pedro de Oliveira sugeriram aos responsáveis pela Embaixada da República Popular da China no Brasil a publicação no Brasil dos dois primeiros volumes do livro “A Governança da China”, de Xi Jinping, e se encarregaram de estabelecer as ligações para que uma Editora brasileira do Rio de Janeiro imprimisse a obra, o que foi feito com sucesso. Assim contribuindo para a ampla divulgação de suas ideias.
- Quantas vezes a senhora esteve em visita à China. Pode partilhar com nossos leitores alguma história com a China?
LUCIANA SANTOS — Eu estive na China três vezes. Sempre foram viagens muito interessantes e enriquecedoras. Poder ver de perto os efeitos concretos das políticas de desenvolvimento é sempre uma experiência valorosa. Observamos que os camaradas chineses seguem uma filosofia centrada nas pessoas. Como a erradicação da pobreza é uma das prioridades do Estado, essa agenda está sempre presente em planos de desenvolvimento da China a médio e longo prazo, a fim de assegurar a coerência das políticas e a estabilidade dos apoios financeiros. Há planos de ação em todas as esferas de governo, além de um completo mecanismo de trabalho que pode ser visto em todos os locais que visitamos.
Num outro plano, mais cultural, me impressionou muito observar as manhãs em Xangai, as pessoas se exercitando no parque do povo, também a Cidade Proibida e seus séculos de história e, como não poderia deixar de ser, a Muralha da China, que é uma obra fabulosa da engenharia. Como engenheira que sou ela me fascina de um jeito muito especial.