É com imenso pesar que tomamos conhecimento do falecimento de Iuda Dawid
Goldman vel Lejbman, ocorrido nesta terça-feira, 31 de maio, aos 91
anos. Iuda era professor titular do Instituto de Física da Universidade
de São Paulo, membro fundador da Sociedade Brasileira de Física e
ex-chefe do Departamento de Física Experimental do IF-USP. Reconhecido
como uma expressiva liderança científica nacional e internacional, foi
pioneiro no desenvolvimento da Física Nuclear no Brasil.
O Prof. Iuda se formou em Física na então Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras e em Engenharia na Escola Politécnica, ambos da
Universidade de São Paulo. Ainda enquanto estudante de graduação,
participou da expedição para Chacaltaya, levando a câmara de emulsões
nucleares de César Lattes. Em seguida, foi para o CNRS Orsay, no grupo
de Toshika Yuasa, conhecida como a “Madame Curie do Japão” e primeira
física japonesa, onde trabalhou no problema de 3-corpos em reações com
prótons. Chefiou uma das equipes do CNRS. De volta ao Brasil, atuou
ativamente no aperfeiçoamento do IF-USP. Foi um dos protagonistas na
criação do IPEN-USP.
Sua paixão pela formação de novos cientistas sempre foi reconhecida. Uma
ampla gama de docentes do IF-USP foi orientada por ele, seja em física
nuclear experimental ou teórica, ou foram alunos em um dos cursos
ministrados por ele. Aos que tiveram oportunidade de sua orientação,
seguramente se lembrarão dos “problemas de Sommerfeld” que ele costumava
passar antes de aceitar qualquer aluno em seu grupo de pesquisa. Sempre
insistia com seus alunos para “aprenderem a pensar e ter ideias
criativas” ou a terem uma “formação sólida em Mecânica Quântica,
Relatividade, Eletromagnetismo e Mecânica Clássica” antes de aprenderem
tópicos mais avançados.
Nos anos 70 recebeu convite do Prof. Vogt para dirigir o TRIUMF. Dada a
então situação crítica do Instituto de Física na época, preferiu
continuar como professor na USP. A partir dos anos 80 até o final,
estabeleceu uma profunda relação acadêmica e de amizade com o Prof. Eric
Norman, na Universidade da Califórnia em Berkeley, onde foi professor
visitante por anos. Em Berkeley, ele realizou diversas pesquisas
relevantes das quais muito se orgulhava, como a relação do Ti-44 com a
supernova SN1987A, que valeu o prêmio destaque do ano na PLOS-ONE.
Trabalhou em medidas sobre strangelets e em diversas análises de
estrutura nuclear, algumas, referências até hoje. Frequentemente enviava
doutorandos para estagiar lá, de forma a contribuir na formação de
cientistas de alto nível.
Não podemos também deixar de destacar sua atuação política. Eterno
comunista, foi sempre contrário a toda forma de desigualdade e opressão.
Atuou ativamente contra a ditadura militar, sempre ajudando todos os
perseguidos pela ditadura. Participou de vários conselhos e congregações
na USP.
Sempre muito contente da rara oportunidade que teve, com conversas
frequentes com Giuseppe Occhialini, Gleb Wataghin, Mario Schenberg,
Cesar Lattes, Leite Lopes, Damy e Jayme Tiomno e de ter estudado
Mecânica Quântica com David Bohm, fez parte de uma rara geração do IF,
junto com Ernest Hamburguer e Moyses Nussenzveig, estudando com ambos no
liceu e na graduação.
Para concluir, foi sempre muito orgulhoso de seus alunos, muitos dos
quais docentes nas melhores universidades nacionais e internacionais.
