Lembranças de João Amazonas


Construtor e ideólogo do Partido Comunista do Brasil, João Amazonas viveu noventa anos e neste 27 de maio lembramos seu falecimento, em São Paulo, após quase sete décadas de dedicação à atividade política, em defesa das convicções revolucionárias, da soberania, da democracia e do progresso social do país.

Ao evocarmos sua memória, é preciso frisar um aspecto importante da atuação de João amazonas: seu papel proeminente no processo de construção partidária vivido pela legenda comunista desde a década de 1940. No enfrentamento aos períodos de ditadura e no embate contra correntes revisionistas que ameaçaram liquidar o Partido, Amazonas esteve à frente da batalha pela defesa da organização partidária.

Sob a direção de João Amazonas, o PCdoB nunca recuou diante de suas responsabilidades históricas. Se o Partido fortaleceu sua ação no meio do povo e dos trabalhadores, com crescente presença na luta sindical e nos movimentos sociais, sua presença na luta política de massas no final da ditadura militar também foi decisiva, atuando em várias instâncias de sua manifestação. Na Campanha pelas Diretas Já!, em 1984-1985, a militância comunista teve presença intensa. Quando a emenda que devolvia aos brasileiros o direito de votar para presidente da República foi derrotada no Congresso Nacional, o PCdoB indicou que o foco da luta se transferia para o próprio Colégio Eleitoral, criação do Regime Militar, tornando-se o meio naquelas circunstâncias pelo qual se poderia vencer a ditadura.

Era um momento delicado da luta pela democratização em nosso país, e aquela foi a saída encontrada, com o apoio dos comunistas, para a superação do Regime Militar.

João Amazonas deixou de viver em 27 de maio de 2002. Ele não chegou a ver completada uma obra na qual teve um papel fundamental: a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República — feito histórico pelo qual lutou desde 1989, quando foi um dos principais articuladores da Frente Brasil Popular. A partir da eleição de Lula, com apoio dos comunistas e de outras forças progressistas, o Brasil venceu uma fase e caminha para buscar rumos próprios de desenvolvimento soberano, de ampliação da democracia e progresso social.

Ainda que Amazonas já não estivesse entre nós, o fortalecimento e o crescimento do Partido Comunista do Brasil a partir de 2002 são também obra sua. Neste período, a legenda comunista, seguindo os passos indicados por ele, angariou respeito e prestígio no cenário político brasileiro, está presente em todos os níveis de governo, tem uma bancada parlamentar atuante e muito respeitada, tem uma presença forte e ativa nos movimentos sociais, atuando como força dirigente em muitas organizações populares e de trabalhadores. No exterior é reconhecido e considerado, tendo elevado a dimensão de sua atividade internacionalista.

Esse PCdoB, influente e em crescimento, foi o principal legado teórico, prático e político daquele homem simples que foi João Amazonas — um revolucionário que nunca recuou diante das mais difíceis e complexas exigências da luta de classes.

RENATO RABELO

(Escrito com trechos do Prefácio do livro “Meu verbo é Lutar” A vida e o pensamento de João Amazonas, de Augusto Buonicore, em 2012)

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