É preciso construir um futuro justo e sustentável baseado na ciência


Quando assumiu a presidência do G20, em dezembro passado, o Brasil tomou a decisão inicial de estabelecer um grupo de trabalho dedicado à pesquisa e à inovação. A medida não só declarada o compromisso do governo do presidente Lula com ciência , tecnologia e inovação (CT&I), mas ressaltou como esses temas se transferiram centralmente na agenda global e destacaram de atenção e liderança das 20 maiores economias do mundo.

O G20 é um espaço privilegiado para definir ações de cooperação internacional em pesquisa e desenvolvimento tecnológico que lidem com os maiores desafios dos nossos tempos, como a descarbonização da economia, a produção de vacinas para futuras pandemias, o combate à fome e a aplicação de tecnologias emergentes , tais quais a inteligência artificial (IA).

Mas, para além das atividades concertadas, os países-membros devem se debruçar sobre um desafio tão ou mais crucial: como as desigualdades e assimetrias globais nas capacidades de desenvolvimento e produção de ciência, tecnologia e inovação colocam em respostas risco efetivas às mudanças climáticas, à perda da biodiversidade e às novas emergências em saúde.

Um relatório recente das Nações Unidas sobre tecnologia e inovação apontou que os países da América Latina, do Caribe e da África Subsaariana são os menos preparados para usar, adotar e adaptar tecnologias de ponta e corrigir o risco de perder as oportunidades tecnológicas de um mundo de baixo carbono, como IA, hidrogênio sustentável e internet das coisas.

Ao mesmo tempo, não há como exigir que países em desenvolvimento e de menor desenvolvimento relativo se comprometam a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, tornem suas matrizes energéticas mais limpas e sustentáveis, respondam de forma mais eficaz aos efeitos dos desastres naturais decorrentes dos eventos climáticos extremos e atender facilmente às demandas de crises de saúde globais sem garantir que todos tenham as mesmas condições e capacidade tecnológica para tanto. O modelo de desenvolvimento atual não atualiza as respostas prementes de que o mundo precisa para enfrentar suas múltiplas crises.

Buscando trazer alternativas a esse modelo, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação propôs uma estratégia do G20 para promover a cooperação em inovação aberta. Tal processo visa facilitar parcerias, colaborações e compartilhamento e transferência de conhecimento; financiamentos multilaterais à pesquisa, desenvolvimento e inovação; competições internacionais de ideias como hackathons (eventos de curta duração em que equipes desenvolvem soluções para problemas específicos); antecipação de tecnologias emergentes; formas alternativas de licenciamento; e criação de redes de inovação entre os países. Com essa estratégia, esperamos avançar em soluções para os maiores desafios globais que enfrentamos, reduzir as desigualdades e assimetrias no acesso e produção da ciência, tecnologia e inovação, garantir o direito ao desenvolvimento e acelerar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

A conclusão desse trabalho se dá nesta semana, em Manaus, onde presido a 1ª Reunião de Ministros de Pesquisa e Inovação do G20. Na ocasião, sob coordenação do Brasil, completamos também outras entregas importantes, como o lançamento de uma chamada para projetos de pesquisa e inovação sobre a Amazônia e florestas tropicais; uma recomendação sobre inclusão e diversidade na CT&I; o incentivo a ações de catalogação de espécies da biodiversidade; e uma lista de tecnologias de energias limpas que podem ser alvos de transferência de tecnologia. O país se posiciona, assim, como mediador relevante de consensos para um futuro mais justo e sustentável baseado em ciência, tecnologia e inovação.

*Luciana Santos é presidenta nacional do PCdoB e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação

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