Jô Moraes: Serra nega diplomacia multilateral


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Na condição de ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, quero registrar a minha profunda tristeza pelo pronunciamento e pelas primeiras medidas do novo ministro interino de Relações Exteriores, José Serra.

Digo isso porque, para nós que acompanhamos uma longa trajetória da diplomacia brasileira, nós que compreendemos e registramos, a partir do discurso do Chanceler, Embaixador Mauro Vieira, nas suas palavras de despedida, sentimos que a diplomacia do universalismo, a diplomacia da parceria com múltiplos países, independente dos níveis de desenvolvimento econômico, essa política universalista da diplomacia brasileira que levou nosso país a jogar um papel extremamente importante na geopolítica mundial, sucede a essa diplomacia, uma diplomacia que eu classificaria como a diplomacia do atraso, a diplomacia dos aluguéis.

Na primeira declaração o novo Chanceler, do governo interino de Temer, anunciou que vai fazer um levantamento dos valores dos alugueis das embaixadas, mas das Embaixadas da África e do Caribe. Não falou, em nenhum momento, em outras embaixadas. Falou exatamente daquelas embaixadas de regiões em que os países têm dificuldades de inserção na globalização econômica, necessitam de parcerias cada vez mais frequentes. 
Assustou-me também, que este Chanceler Interino, nas 10 diretrizes que apresentou na sua posse, parecia querer inventar a roda. As 10 diretrizes que ele cita, a maioria delas, já apresenta um desenvolvimento intenso em nosso País, particularmente nos últimos 10 anos, incluindo o período que teve à frente do Itamaraty, o ministro Mauro Vieira.
Ele fala em destacar algumas relações, abrir-se para os Estados Unidos, para a Alemanha. Ele esqueceu que a Presidenta Dilma Rousseff, em 2015, esteve com o Presidente Barack Obama. Foi uma  visita extremamente importante a aproximação daquele país com o  Brasil, visita em que foram assinados acordos de cooperação com os Estados Unidos nas áreas de defesa, de educação, da agricultura, de ciência e tecnologia, até acordos previstos com a NASA.

Quero dizer que essa visão do Chanceler interino José Serra – de querer reduzir as suas relações com os vizinhos a soltar notas agressivas contra os países irmãos da América Latina, que questionaram o processo democrático ocorrido no País, esse movimento golpista que está em curso –, não corresponde à diplomacia brasileira, que sempre foi de respeito e não ingerência em assuntos internos de outros países.
Aliás, em um ponto de pé de página, o Chancelar José Serra falou da não ingerência, prática essa que é realizada pelo seu partido cotidianamente, por meio de caravanas como a que foi a Venezuela para questioná-la.
Esses primeiros sinais que o Chanceler interino José Serra apresenta, nos preocupa, porque estamos num crescente processo de incorporação do Brasil no mercado internacional.
Nós estivemos agora com o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, que realizou grandes conquistas, como o Plano Nacional de Exportação.
No período mais recente, Senhor Presidente, o Brasil teve uma articulação intensa culminando com a assinatura de acordos bilaterais, acordo automotivo com a Colômbia, com o México, com o Peru, que incluem, com esse último país, compras governamentais, cooperação no âmbito da propriedade intelectual, acordos em relação a serviços, enfim, inúmeros acordos que estão em andamento e que precisam ser preservados.
Por isso eu quero pedir ao Chanceler José Serra que leve em conta o fato de que a diplomacia brasileira não começou com a chegada dele. A diplomacia brasileira é uma construção histórica, é uma construção de cooperação que o Itamaraty e sua equipe de funcionários sempre preservaram. E nós não admitiremos a ingerência de discursos político-partidários para atrapalhar as conquistas e o papel geopolítico do Brasil.

Jô Moraes – deputada federal

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