Adalberto Monteiro: Maus presságios e uma benévola profecia


No metrô, no ônibus,
Em voz alta
Aqueles que outrora por vergonha
Ou medo de serem pelo povo rechaçados
Se mantinham calados
Ou falsamente nos saudavam.
Agora, de propósito gritam como se falassem,
Sabem que a temperatura da estufa
É apropriada para que cresçam larvas.
Vulcões supostamente extintos
Há muito não inundavam as planícies de larvas,
Nem cobriam de cinza o céu azul.
Antes temiam a rua, igual os ratos ao sol.
Antes, os atos por eles convocados
Cabiam num metro quadrado.
Agora, o outrora contaminou o futuro.
Grandes vagas enfurecidas, pelo ódio contaminadas,
Pela falácia mobilizadas,
Tornam estreito o vão de grandes avenidas.
Quando o mundo novo está em desvantagem,
Mesmo sufocada, nossa voz deve ousar
Falar mais alto que a trovoada.
Um punhado de verdade encara
Uma tonelada de mentira.
Lá do alto, nossa passeata à multidão comparada
Talvez tenha a aparência de largo leito
Com pouca água.
Mas é água fresca e cristalina,
Reluzirá o brilho do sol, a sedução da lua,
E o brilho das galáxias.
Aos poucos e depois aos saltos,
Voltará a encher todo o leito,
E transbordará para as margens,
E haverá, de novo, pesca farta,
E chão fértil para o arroz, o feijão e o trigo.

Adalberto Monteiro
Julho-2015

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