DOS SALÕES PARA AS RUAS


Por Luciano Siqueira

O ato público da última segunda-feira, no teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA), a propósito do Dia Internacional da Democracia, guarda muitos significados.

Em recinto fechado, sim; em local marcado por tradição de luta libertária construída ao longo das últimas décadas.

Amplo: representantes de diversos segmentos da sociedade — políticos, religiosos, acadêmicos, artísticos — expressaram com nitidez suas convicções na defesa da democracia e da soberania nacional.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, a presidente da UNE, Bianca Borges, o reitor Vidal Serrano Nunes, da PUC, dentre muitos manifestaram elevada compreensão acerca do momento presente e da dimensão da luta.

Dirigentes partidários, como Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB, sublinharam a natureza estratégica da resistência democrática.

Destaque para Almino Affonso, ex-ministro da Educação no governo João Goulart, militante persistente aos 96 anos.

A resultante política certamente ultrapassa o horizonte do ato em si, que semeia possibilidades em seus desdobramentos.

No atual estágio da mobilização social, eventos dessa natureza além de darem consistência à convergência de ideias, arregimentam energias para que possam, adiante, desembocar em grandes manifestações populares em praça pública.

Um detalhe relevante, pois o movimento democrático e popular brasileiro ainda não conseguiu encontrar caminhos e formas de superação da nova realidade dos trabalhadores e das grandes massas populares, na qual nem sempre é fácil colocar grandes contingentes de ativistas em praça pública.

O voluntarismo puro e simples não dá conta do desafio. Nem a mera reprodução de formas de luta e de mobilização mais afeitas ao ascenso do movimento do que ao momentâneo descenso.

A consigna “nas redes e nas ruas” é insuficiente porque omite a necessária etapa da mobilização mais qualificada, destinada a consolidar a convergência de opiniões e a disposição comum em por em ação grandes parcelas do povo.

Melhor propor “nas redes, nos salões e nas ruas”.

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